quarta-feira, maio 17, 2023




quarta-feira, abril 04, 2012

carta de Sara Fidalgo, filha de uma professora que se suicidou no dia 1 de Março


Carta a professores, alunos, pais, governantes, cidadãos e quaisquer outros que possam sentir-se tocados e identificados.
As reformas na educação estão na boca do mundo há mais anos do que os que conseguimos recordar, chegando ao ponto de nem sabermos como começaram nem de onde vieram. Confessando, sou apenas uma das que passou das aulas de uma hora para as aulas de noventa minutos e achei aquilo um disparate total. Tirava-nos intervalos, tirava-nos momentos de caçadinhas e de saltar à corda e obrigava-nos a estar mais tempo sentados a ouvir sobre reis, rios, palavras estrangeiras e números primos.
Depois veio o secundário e deixámos de ter “folgas” porque passou a haver professores que tinham que substituir os que faltavam e nós ficávamos tristes. Não era porque não queríamos aprender, era porque as “aulas de substituição” nos cansavam mais do que as outras. Os professores não nos conheciam, abusávamos deles e era como voltar ao zero.
Eu era pequenina. E nunca me passou pela cabeça pensar no lado dos professores.Até ao dia 1 de Março.
Foi o culminar de tudo. Durante semanas e semanas ouvi a minha mãe, uma das melhores professoras de Inglês que conheci, o meu pilar, a minha luz, a minha companhia, a encher a boca séria com a palavra depressão. A seguir vinham os tremores, as preocupações, as queixas de pais, as crianças a quem não conseguimos chamar crianças porque são tão indisciplinadas que parece que lhes falta a meninice. Acreditem ou não, há pais que não sabem o que estão a criar. Como dizia um amigo meu: “Antigamente, fazíamos asneiras na escola e quando chegávamos a casa levávamos uma chapada do pai ou da mãe. Hoje, os miúdos fazem asneiras e os pais vão à escola para dar a dita chapada nos professores”. Sim, nos professores. Aqueles que tomam conta de tantos filhos cujos pais não têm tempo nem paciência para os educar. Sim, os professores que fazem de nós adultos competentes, formados, civilizados. Ou faziam, porque agora não conseguem.
A minha mãe levou a maior chapada de todas e não resistiu. Desculpem o dramatismo mas a escola, o sistema educativo, a educação especial, a educação sexual, as provas de aferição e toda aquela enormidade de coisas que não consigo sequer enumerar, levaram deste mundo uma das melhores pessoas que por cá andou. E revolta-me não conseguir fazer-lhe justiça.
Professores e responsáveis pela educação, espero que leiam isto e acordem, revoltem-se, manifestem-se (ainda mais) mas, sobretudo e acima de qualquer outra coisa, conversem e ajudem-se uns aos outros. Levem a história da minha mãe para as bocas do mundo, para as conversas na sala dos professores e nos intervalos, a história de uma mulher maravilhosa que se suicidou não por causa de uma vida instável, não por causa de uma família desestruturada, não por dificuldades económicas, não por desgostos amorosos mas por causa de um trabalho que amava, ao qual se dedicou de alma e coração durante 36 anos.
De todos os problemas que a minha mãe teve no trabalho desde que me conheço (todos os temos, todos os conhecemos), nunca ouvi a palavra “incapaz” sair da boca dela. Nunca a vi tão indefesa, nunca a conheci como desistente, nunca pensei ouvir “ando a enganar-me a mim mesma e não sei ser professora”. Mas era verdade. Ela soube. Ela foi. Ela ensinou centenas de crianças, ela riu, ela fez o pino no meio da sala de aulas, ela escreveu em quadros a giz e depois em quadros electrónicos. Ela aprendeu as novas tecnologias. O que ela não aprendeu foi a suportar a carga imensa e descabida que lhe puseram sobre os ombros sem sentido rigorosamente nenhum. Eu, pelo menos, não o consigo ver.
E, assim, me manifesto contra toda esta gentinha que desvaloriza os professores mais velhos, que os destrói e os obriga a adaptarem-se a uma realidade que nunca conheceram. E tudo isto de um momento para o outro, sem qualquer tipo de preparação ou ajuda.
Esta, sim, é a minha maneira de me revoltar contra aquilo que a minha mãe não teve forças para combater. Quem me dera ter conseguido aliviá-la, tirar-lhe aquela carga estupidamente pesada e que ninguém, a não ser quem a vive, compreende. Eu vivi através dela e nunca cheguei a compreender. Professores, ajudem-se. Conversem. E, acima de tudo, não deixem que a educação seja um fardo em vez de ser a profissão que vocês escolheram com tanto amor.
Pensem no amor. E, com ele, honrem a vida maravilhosa que a minha mãe teve, até não poder mais.
Sara Fidalgo
P.S. – Não posso deixar de agradecer a todos os que nos ajudaram neste momento de dor *

Escola de D. Maria: Segunda professora a suicidar-se em 17 dias


Uma mulher morreu, hoje, em Coimbra, por enforcamento, sendo a segunda professora da Escola Secundária de D. Maria a suicidar-se no horizonte de 17 dias, soube o “Campeão”.

Maria de Fátima, 47 anos de idade, docente de Biologia, pôs termo à vida em casa de uma amiga (estilista).
A 10 de Janeiro [de 2012], outra professora de Biologia daquele estabelecimento (uma das melhores escolas secundárias portuguesas do ensino público) suicidou-se na Figueira da Foz.

sexta-feira, novembro 04, 2011

grande professor!!!!

sábado, setembro 10, 2011

Professores: novo modelo de avaliação satisfaz "no seu essencial"

O Ministro da Educação Ciência, Nuno Crato, afirmou que "Portugal tem a partir de hoje um novo modelo de avaliação de professores", depois de o Ministério ter chegado a acordo com sete das treze organizações sindicais.

No final da maratona negocial, que teve início às 08:30 e só terminou depois das 23:00, os dois principais sindicatos tomaram diferentes posições, com a Federação Nacional de Professores (FENPROF) a recusar assinar o novo acordo, que foi subscrito pela Federação Nacional de Educação (FNE).

"A nova avaliação docente tem ciclos mais longos, coincidentes com as progressões na carreira, evita conflitos de interesses entre avaliadores e avaliados, promovendo uma avaliação hierárquica e externa, em que os avaliadores pertencem ao mesmo grupo disciplinar dos avaliados", explicou o ministro durante a conferência de imprensa já depois das 00:00.

Modelo formativo e não burocrático


"Estamos muito satisfeitos, houve cedências de parte a parte mas no essencial este modelo satisfaz-nos pois é um modelo formativo, não burocrático e que vai ajudar todos a progredirem e a serem melhores professores", disse Nuno Crato.

No seu entender "os professores querem tranquilidade para iniciarem o ano letivo e desejam que a avaliação não seja um empecilho à sua atividade docente, mas antes o contrário", adiantando que "os professores e as famílias devem estar contentes pois virou-se uma página", com a assinatura deste acordo.

A Fenprof recusou assinar o documento final pois os três pontos essenciais que defendia, a redução do número de menções na avaliação (atualmente são cinco), a eliminação de quotas para as classificações mais elevadas e implicação nas notas na graduação de professores nos concursos, não foram satisfeitos pelo Ministério.

O Ministério manteve as quotas e as cinco menções avaliativas. Em relação aos concursos há uma alteração, que no nosso entender cria uma situação discriminatória entre professores de carreira e contratados, não resolvendo o problema", justificou o secretário-geral da Fenprof.
Apesar de não ter havido acordo, Mário Nogueira considera que houve "resultados positivos" e dá alguns exemplos.

Simplificação dos processos


"Os ciclos de avaliação deixam de ser de dois anos, quem já teve observação de aulas não vai precisar de a ter novamente no novo ciclo avaliativo, a desburocratização de todo o processo e a simplificação de procedimentos", salientou o dirigente sindical.

Nenhum dos sindicatos pediu negociação suplementar e para Mário Nogueira o processo de negociação do novo modelo de avaliação dos professores "encerrou esta sexta-feira" e apela a que os professores "virem a página para outros problemas maiores que têm pela frente".
A Fenprof assinou ainda uma acta negocial global evidenciando os pontos de acordo e desacordo relativamente ao novo modelo de avaliação.

FNE aceita novo modelo de avaliação


A FNE manteve a discordância quanto à manutenção das quotas no processo de avaliação de desempenho, mas decidiu assinar o acordo, já que "estavam adquiridos os pressupostos essenciais".

"Conseguimos manter fatores que garantem que em tempo de descongelamento das progressões, os bons professores têm as legítimas expectativas de atingirem o topo da carreira em tempo útil", referiu o secretário-geral, João Dias da Silva, que destaca outras vitórias.

"A simplificação dos processos de avaliação de desempenho, a garantia de intervenção de avaliadores externos e o facto de estar assegurado que os avaliadores serão sempre de escalão superior aos dos avaliados e com formação especializada para fazerem avaliação", referiu o sindicalista.


Ler mais: http://aeiou.expresso.pt/professores-novo-modelo-de-avaliacao-satisfaz-no-seu-essencial=f673016#ixzz1XXwRMrqs

sexta-feira, março 18, 2011

Sindicato critica ministério por obrigar professores do Algarve a terem formação longe de casa

O Sindicato dos Professores da Zona Sul criticou hoje o Ministério da Educação por obrigar os docentes do Algarve seleccionados para classificadores das provas de exame a deslocarem-se a Beja, Évora, Setúbal ou Lisboa para terem formação.
"Os professores do ensino secundário que o Ministério da Educação 'seleccionou' como classificadores de provas de exame vão ser obrigados a percorrerem centenas de quilómetros para frequentarem acções de formação sobre esta tarefa para que foram 'seleccionados'", denunciou o sindicato num comunicado.

A estrutura sindical da Federação Nacional de Professores (Fenprof) não compreende como, "apesar de, em Faro, haver uma Direcção Regional de Educação que deveria ter organizado tais acções no distrito, os docentes tenham de se deslocar, pelo menos, a Beja, Setúbal ou Lisboa para, numa sexta-feira e num sábado, frequentarem tais acções".
O Sindicato, que já pediu esclarecimentos sobre esta questão à Direcção Regional de Educação do Algarve, considera que a situação é "absurda" e quer saber quem vai suportar as despesas com alojamento, deslocações, refeições e o trabalho em dia complementar, por a formação se realizar num sábado.
"O Sindicato dos Professores da Zona Sul/Faro denuncia esta falta de organização do Ministério da Educação, bem como os elevados custos deste tipo de estratégia de formação, numa época em que, quase diariamente, são anunciados cortes que afectam a vida dos professores e das escolas", refere a estrutura sindical num comunicado.
O texto considera ainda que, se a formação fosse no Algarve, não haveria necessidade de cobrir este tipo de despesas e a ministra da Educação, Isabel Alçada, não perguntava "onde poderá poupar os 43 milhões de euros que o chumbo das alterações curriculares lhe custarão".

jovens na rua “são os nossos filhos, os nossos alunos”


Os jovens que estão hoje na rua “são os nossos filhos, os nossos alunos, os nossos colegas. Manifestamos mais do que solidariedade, têm a nossa disponibilidade para com eles irmos à luta”, disse o secretário-geral da Federação Nacional dos Professores (Fenprof), Mário Nogueira, em nome dos professores em plenário no Campo Pequeno.

Mário Nogueira disse que os professores vão formar um cordão humano em frente ao Ministério da Educação, na Avenida 5 de Outubro, para onde os participantes se vão dirigir entretanto.

Ao secretário de Estado da Educação, Alexandre Ventura, os professores vão entregar as folhas de avaliação que estão a preencher no Campo Pequeno. Os avaliados não serão, desta vez, os docentes, mas sim o Ministério da Educação. As notas oscilam entre o insuficiente e o excelente.

O recinto do Campo Pequeno não chegou a encher. Compareceram cerca de oito mil professores. Dulce Pinheiro, que veio da Covilhã, disse estar convencida de que este plenário será o “início de novas grandes manifestações de professores”.

Vários dos professores que estão no Campo Pequeno passaram primeiro pela Avenida da Liberdade, onde decorre o Protesto Geração à Rasca e esperam ter ainda tempo de voltar lá quando terminar a manifestação em frente ao Ministério da Educação. Ao princípio da noite, eram já poucos aqueles que aguardavam, ali, o fim do encontro entre os sindicatos e Alexandre Ventura.

Prémio Nacional de Professores fica por entregar





O que faz de um director de uma escola um bom líder? Adelina Pereira, que hoje recebeu o Prémio de Mérito Liderança, atribuído pelo Ministério da Educação, não tem dúvidas: “Uma boa dose de humanismo, saber colocar-se no lugar do outro, agir.” A docente foi distinguida num ano em que, pela primeira vez, o júri decidiu não atribuir o prémio máximo do pacote de prémios criado em 2007 pelo Governo – o Prémio Nacional de Professores. E tudo porque nenhuma candidatura cumpria os requisitos.
O Prémio Nacional de Professores foi criado em 2007 pelo Governo (Daniel Rocha)

Professora de Inglês e Português, Adelina Pereira esteve, nos últimos 18 anos, à frente dos destinos da Escola Básica Domingos Capela, em Espinho, e, em 2002, passou a ser presidente do conselho executivo do agrupamento de escolas com o mesmo nome. Em Outubro aposentou-se. Há “uma ou duas semanas” ficou a saber que iria ser distinguida o que aconteceu hoje, nas instalações do Ministério da Educação, em Caparide. “É uma excelente maneira de terminar uma carreira” de 33 anos de profissão, diz.

Foram ainda entregues mais dois galardões – o Prémio de Mérito Carreira, a José Carlos Peixoto, professor de Língua Portuguesa e de História do 2.º ciclo, na Escola Básica do 2.º e 3.º ciclos Frei Caetano Brandão, em Braga; e o Prémio Mérito Inovação, atribuído a Maria do Carmo Leitão, professora do 1.º ciclo do Centro Escolar de Lamego Sudeste.

Por entregar ficou o Prémio Mérito Integração. E também o Prémio Nacional de Professores, no valor de 25 mil euros. “Os restantes prémios foram materializados por diplomas de mérito pedagógico, visitas de estudo a escolas ou a instituições de referência no estrangeiro, ou ainda através da publicação e divulgação de trabalhos dos candidatos, depois de homologados pela Direcção-Geral de Inovação e de Desenvolvimento Curricular”, faz saber o Ministério da Educação no seu site na Internet.

“O júri, presidido pelo Engenheiro Roberto Carneiro, decidiu não atribuir o Prémio Nacional de Professores e o Prémio de Mérito Integração, por considerar que as candidaturas apresentadas não reuniam os requisitos considerados necessários para o efeito”, afirma o gabinete da ministra Isabel Alçada, em comunicado.

“O objetivo desta iniciativa é reconhecer e galardoar os docentes que contribuam de forma excepcional para a qualidade do sistema de ensino, quer no exercício da actividade docente, em contacto directo com alunos, quer na defesa de boas práticas com impacto na valorização da escola”, sublinha o Governo.



David Justino defende mais confiança nos professores e menos burocracia na escola

O ex-ministro da Educação David Justino defendeu hoje mais confiança no trabalho dos professores e menos burocracia nas escolas, bem como uma discussão alargada sobre o que se quer para o sector depois de 2025.

Durante um debate promovido pela Federação Nacional da Educação (FNE), em Lisboa, o ex-governante considerou que é preciso “começar a desdramatizar” e que a “descompressão” passaria muito por os professores sentirem “maior confiança relativamente à forma como trabalham, como são avaliados e como avaliam” os alunos.

“Seria muito interessante podermos pensar que um dos pontos nevrálgicos que tem a ver com o modelo de avaliação dos professores pudesse ser superado. Isso seria um passo importante relativamente a esse voto de confiança nos professores”, afirmou.

David Justino exemplificou que esse voto de confiança poderia traduzir-se “numa carga menos burocrática na avaliação”.

O ex-titular da pasta da Educação recordou que nas muitas conferências que tem dado em escolas é sempre interrompido, “com palmas”, quando fala no excesso de burocracia no trabalho dos professores: “Até já nem uso muito (o caso) para não parecer que estou a aproveitar-me da desgraça dos outros”.

O professor defendeu uma discussão, sem pressa e com a participação de toda a sociedade, “num processo sustentado” que leve a uma reflexão sobre o que o país quer para a Educação.

“É a falta de sentido de futuro que limita a eficácia das próprias políticas”, sustentou.

Para David Justino, sem visão de futuro não existe previsibilidade e a confiança dos parceiros morre.

“Quando vou fazer uma viagem não sei qual é a rota que o comandante está a seguir. Confio, mas só tenho confiança no comandante se souber onde é que ele vai aterrar”, ilustrou.

O debate que defende não tem necessariamente de conduzir a uma nova Lei de Bases, como defende a FNE. O sociólogo avisou que os problemas não se resolvem criando leis em série, como os políticos tendem a fazer.

“Há uma grande tentação: quando há um problema cria-se uma lei”, criticou David Justino, acrescentando que o fundamental é que haja reflexão para os parceiros se pronunciarem, sem preconceitos ideológicos.

E reafirmou: “só com ideologia não se conseguem resolver os problemas. Temos de saber que educação queremos para os próximos 15 a 20 anos”.

“Devíamos projectar a educação para depois de 2025 e não conheço nenhum estudo sobre isso”, lamentou, referindo que uma criança que entre agora no sistema de ensino aí permanecerá, em média, 15 a 16 anos.

David Justino lamentou também que Portugal seja dos países com menor carga horária nos “saberes fundamentais” (matemática, português e ciências).

“O projecto para a Educação em Portugal é um projecto do país, não é dos partidos, nem dos ministros, nem dos sindicatos. Se for assim não vamos a lado nenhum”, avisou.

No final do debate, o secretário-geral da FNE, João Dias da Silva, insistiu na revisão da Lei de Bases do Sistema Educativo, com ligação à formação profissional, e em leis claras.

O responsável da FNE reiterou igualmente que as opções orçamentais “não podem pôr em causa a qualidade pedagógica” do serviço prestado.

quarta-feira, março 02, 2011

ALABAMA SONG

terça-feira, março 01, 2011

A Grande Evasão

'Quem pode, foge. Muitos sujeitam-se a perder 40% do vencimento. Fogem para a liberdade. Deixam para trás a loucura e o inferno em que se transformaram as escolas. Em algumas escolas, os conselhos executivos ficaram reduzidos a uma pessoa. Há escolas em que se reformaram antecipadamente o PCE e o vice-presidente. Outras em que já não há docentes para leccionar nos CEFs. Nos grupos de recrutamento de Educação Tecnológica, a debandada tem sido geral, havendo já enormes dificuldades em conseguir substitutos nas cíclicas. O mesmo acontece com o grupo de recrutamento de Contabilidade e Economia. Há centenas de professores de Contabilidade e de Economia que optaram por reformas antecipadas, com penalizações de 40% porque preferem ir trabalhar como profissionais liberais ou em empresas de consultadoria. Só não sai quem não pode. Ou porque não consegue suportar os cortes no vencimento ou porque não tem a idade mínima exigida. Conheço pessoalmente dois professores do ensino secundário, com doutoramento, que optaram pela reforma antecipada com penalizações de 30% e 35%. Um deles, com 53 anos de idade e 33 anos de serviço, no 10º escalão, saiu com uma reforma de 1500 euros. O outro, com 58 anos de idade e 35 anos de serviço saiu com 1900 euros. E por que razão saíram? Não aguentam mais a humilhação de serem avaliados por colegas mais novos e com menos habilitações académicas. Não aguentam a quantidade de papelada, reuniões e burocracia. Não conseguem dispor de tempo para ensinar. Fogem porque não aceitam o novo paradigma de escola e professor e não aceitam ser prestadores de cuidados sociais e funcionários administrativos.

'Se não ficasse na história da educação em Portugal como autora do lamentável 'pastiche' de Woody Allen 'Para acabar de vez com o ensino', a actual ministra teria lugar garantido aí e no Guinness por ter causado a maior debandada de que há memória de professores das escolas portuguesas. Segundo o JN de ontem, centenas de professores estão a pedir todos os meses a passagem à reforma, mesmo com enormes penalizações salariais, e esse número tem vindo a mais que duplicar de ano para ano.

Os professores falam de 'desmotivação', de 'frustração', de 'saturação', de 'desconsideração cada vez maior relativamente à profissão', de 'se sentirem a mais' em escolas de cujo léxico desapareceram, como do próprio Estatuto da Carreira Docente, palavras como ensinar e aprender. Algo, convenhamos, um pouco diferente da 'escola de sucesso', do 'passa agora de ano e paga depois', dos milagres estatísticos e dos passarinhos a chilrear sobre que discorrem a ministra e os secretários de Estado sr. Feliz e sr. Contente. Que futuro é possível esperar de uma escola (e de um país) onde os professores se sentem a mais?'

Manuel António Pina

quinta-feira, fevereiro 03, 2011

Santana Castilho - O meu dever é falar

Vale a pena ler

domingo, fevereiro 21, 2010

Dia da Língua Materna

21 de Fevereiro de 2010, 19:18

Comemora-se hoje o dia internacional da Língua Materna, instituído pela UNESCO em 1999 com o objectivo de proteger e salvaguardar as línguas faladas no planeta. Calcula-se que, das 6700 línguas faladas actualmente em todo o mundo, cerca de metade corre o risco de desaparecer.

Diversidade linguística: a história do leão e do rato





Mapa das línguas em risco no mundo (UNESCO)

Durante a II Guerra Mundial, um grupo de falantes navajo (língua indígena americana) utilizou um código cifrado baseado nesta língua para comunicação via rádio. Foi o único código que nunca foi decifrado, na história militar recente, e revelou-se decisivo para as vitórias norte-americanas no Pacífico. Este caso é mais uma curiosidade histórica do que linguística, uma vez que nada na língua navajo a torna totalmente indecifrável. Mas na altura não havia meios tecnológicos que ajudassem a quebrar a cifra, e quase ninguém fora da comunidade navajo compreendia a língua. O episódio, como na fábula do leão e do rato, serve para mostrar o valor da diversidade.

Mas, muito mais que utilidade militar ou económica duma língua, um dos principais argumentos a favor da salvaguarda da diversidade das línguas parece ser o mesmo que se aplica à vida na Terra: uma espécie de biodiversidade, neste caso linguística, tendo em conta que a língua é a ferramenta por excelência de transmissão de valores, ideias e visões do mundo. Assim, é da diversidade cultural como património que se fala quando se trata da defesa destas línguas. Para muitas comunidades, a língua é o principal repositório da sua identidade. E o desenvolvimento moderno parece ter na diversidade das línguas, como na diversidade das espécies, um impacto negativo.

O mapa interactivo das línguas em perigo, da UNESCO, mostra-nos um mundo coberto de pequenas bandeiras de alerta, com diferentes níveis de urgência.

Em países como os Estados Unidos, as comunidades índias, por exemplo, têm vindo a perder cada vez mais falantes, uma vez que as novas gerações acabam por adoptar o inglês como língua principal. Em 1990, os Estados Unidos adoptaram legislação com vista à protecção das línguas indígenas. Em 2009, a Austrália anunciou um programa de 7,8 milhões de dólares americanos para tentar salvar as línguas aborígenes que ainda sobrevivem: cerca de dois terços das 275 originais.

O caso português
Para os portugueses, que gozam de uma unidade linguística excepcional, falar do território português coincide quase com falar da língua materna (não esquecendo os falantes do mirandês). E este universo linguístico torna-se muito mais amplo com os restantes países em que o português se aprende em casa, com a família.

No espaço da Península Ibérica registam-se quatro línguas em risco, segundo os critérios da UNESCO: basco, gascão, aragonês e o grupo asturo-leonês, onde se inclui o mirandês. A língua mirandesa, falada em algumas aldeias do planalto transmontano, foi reconhecida oficialmente em 1999 pela Assembleia da República. Entre as várias iniciativas que têm tentado promover a sobrevivência do mirandês, estão por exemplo a publicação de uma Convenção Ortográfica da Língua Mirandesa em 1999, e, num âmbito mais lúdico, as Crónicas em Mirandês, que o Centro Nacional de Cultura tem publicado regularmente no seu site.

Línguas orais sob ameaça
Os países lusófonos discutem presentemente o acordo ortográfico. Um dos argumentos invocados é a importância de uma língua unificada para a afirmação do português no mundo.
Mas para muitas comunidades dos países de língua oficial portuguesa a questão é outra, e mais básica: falam línguas que não têm uma forma escrita, e que por isso estão sob ameaça imediata. Numa entrevista de Julho de 2009 ao SAPO, o escritor moçambicano Mia Couto defendia que a sobrevivência das línguas de tradição oral moçambicanas só é possível se elas se inscreverem na modernidade, o que passa necessariamente por se tornarem escritas e adquirirem normas.

O papel da Internet
Se muitos acusam a hegemonia do inglês na Internet, a UNESCO defende precisamente que ela pode ser uma ferramenta útil para a sobrevivencia destas línguas. Para já, através da disponibilização de informação sobre as línguas e a sua vitalidade - um critério medido por factores como o número de falantes actuais da língua, a disponibilidade e qualidade de materiais de ensino, a transmissão da língua entre gerações, as medidas políticas com vista à defesa da língua, a sua utilização em meios oficiais, e ainda outros factores comportamentais, como a atitude dos falantes para com a sua própria língua.

Quanto ao português, parece não ter muito a temer no universo da Internet. Segundo dados do Internet World Stats, é actualmente a sexta língua mais falada na web.